quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

subir o monte, descer a camisola


Subir o monte, descer a camisola


A propósito do desafio do Sô Dotô. Tagaxinho, fez me lembrar tanta coisa boa que vou começar a partilhar mais neste nosso quintal da escrita.


Já não éramos bem crianças, mas conta como se fossemos. Vejamos:
· éramos sinceras uma com a outra (felizmente continuamos);
· sem papas na língua (mesmo!);
· livres (no verdadeiro sentido);
· exploradoras da natureza (e da paciência dos “adultos”);
· não fumávamos, nem bebíamos álcool, não entrava maquilhagem nas nossas caras;
· comíamos de tudo;
· não trabalhávamos, não tínhamos cartões multibanco, nem prestações para pagar.
· Estudávamos e respeitávamos os professores (pelo menos à frente deles…)
· Para finalizar, ainda somos do tempo que as tareias dos nossos pais faziam parte da educação básica e não eram crime (bons tempos, belas tareias!).
Justificada a parte infantil, aqui vai uma história. Para saberem mais têm de pagar (já somos adultas e há contas a liquidar…)
Ossela. Uma aldeia de Oliveira de Azeméis. Um vale que tem por vizinho um rio e é rodeado por montes. Esta história passou-se aqui, nos montes.
Tínhamos o hábito de fazer piqueniques num local qualquer descoberto por nós ali pelos montes. Lembro-te Pão, uma bela lição que aprendemos: o prazer está no caminho percorrido e não na chegada a determinado local. Sim, cada passo dado, cada paisagem descoberta era um gozo, independentemente do final do passeio. Cada arranhão provocado pelos galhos dos arbustos, cada nódoa negra nos joelhos das escorregadelas dadas, cada folha presa no cabelo… eram medalhas de mérito destes passeios.
E depois parar, comer, comer, comer. Deitar de barriga para cima, fechar os olhos e passar pelas brasas… temos de repetir isto, tás a ouvir?!
E já agora repetimos o resto… O resto destes nossos passeios, culminava quando chegávamos ao cimo do monte… Um sítio onde quase ninguém chegava… mas nós sim… Era ali, no pico do monte que, debaixo do sol do meio-dia, tirávamos a camisolinha e púnhamos as maminhas a bronzear! ….

Pão e Chouriço. In: Memórias da nossa louca adolescência, 2009

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