Desculpem a raiva do momento, mas tem que ser. Era uma vez, digo, era mais uma vez de demasiadas vezes. Num hospital certificado, de "elite" para alguns... 23 doentes internados... 2 enfermeiras e uma auxiliar de acção médica. Uma das enfermeiras ficou destacada para fazer 6 admissões (das 16 às 20h). A outra ficou com os restantes (17 doentes). Foi ao bloco operatório levar 3 e foi ao recobro buscar 6, sendo que cada ida ao bloco implica levar uma cama com o doente e regressar ao serviço com a cama vazia; e que cada ida ao recobro implica levar a cama vazia do serviço e trazer a cama com o doente do recobro... O que equivale, a ter sorte, a 15 minutos de viagem por doente, ou seja 135 minutos (cerca de 2,5 horas)...Neste caso concreto, devo dizer que em 4 horas, sobrou 1,5 horas para responder a solicitações de doentes e vizitantes. Neste periodo, 5 doentes tiveram dores, dois urinaram na cama, um desmaiou, outro que fazia transfusão de sangue sentiu-se mal, vomitou e arrancou o cateter por onde era administrado o sangue, outra doente, que não anda nem se segura de pé, teve uma dejecção na fralda sujando-se pelas costas acima... Acresce que neste periodo, havia medicação para administrar a todos os doentes (às 16, às 18-19 horas) e duas refeições (lanche e jantar)que requerem presença de, pelo menos, a auxiliar a distribuir as refeições pela sala de refeições e pelos doentes acamados em enfermarias. Uma enfermeira jantou das 20h30 às 20h45... a outra das 21h às 21h15... a engolir a unica comida desde o almoço. O turno terminaria às 22 horas... O caos estava instalado.. Um doente iniciou dificuldade respiratória às 21h30 com evidente agonia assitida por familiares que rogavam ajuda. Entre assistir este doente e chamar o médico, as campainhas não param, o telefone não conhece mais de 5 minutos de silêncio. Os outros doentes vêm para o corredor. O caos... o caos é um menino à beira disto! A medicação das 22 horas foi preparada e administrada à pressão. As batas operatórias dos doentes foram trocadas a correr pelos pijamas dos mais de uma dezena de doentes operados hoje. Os registos de enfermagem ficaram marcados pelo minimo e escritos a correr a partir das 22h20, depois de passar o turno às colegas da noite. Não houve tempo para escrever o caos... o que quer dizer que, legalmente, como não está escrito é como se não se tivesse passado nada de extraordinário...Nestes momentos, ou se faz ou se escreve...Muito há a dizer, mas há mais a fazer. Isto não se faz, nem aos utentes, nem TENHAM SANTA PACIÊNCIA aos trabalhadores de um HOSPITAL CERTIFICADO!!!!!!!
